Wednesday 9 June 2010

A história da minha avó materna…


Libânia Coelho, descendente de família abastada rural, cedo casou. Tinha a linda idade de 15 anos. Senhora de aspecto trigueiro, moreno, bem apessoado. Enamorou-se por garboso homem de cabelos loiros e olhos azuis… Casamento de amor… A vida decorreu conforme era prática na época. Os filhos sucederam-se... Enviuvou cedo, ainda era moça… O contacto com os netos foi constante. Nesse contacto muitas histórias familiares foram contadas. Lembro-me de histórias do meu bisavô, paizinho chamava a minha mãe, cuja vida se passava entre duas terras, Mozelos e Vila Nova de Gaia. Dedicava-se ao negócio da madeira e do vinho do porto. O negócio era feito num grande armazém nas margens do rio Douro. Na época as barragens eram uma miragem, as cheias assolavam os armazéns e obrigavam as pessoas a ficar lá para vigiar e tomar conta das mercadorias… Numa dessas ausências a infidelidade surgiu, donde nasceu Donzíria, filha bastarda. Situação banal, estaa notícia foi acolhida com normalidade. Os laços de sangue foram mais fortes e acabou por ser bem aceite na família. Donzíria seguiu a sua vida tendo ido trabalhar para uma fábrica de calçado, onde conheceu o Andrade, viúvo com filhos que a aceitavam mas não numa situação marital. Senhora de bela aparência, cativava… e o seu sucesso na sociedade portuense foi garantido e mantido durante longos anos, até que um dia a fonte de riqueza secou… tendo finalmente casado e acabado os seus dias ao lado de um taxista, relação que a acompanhou até aos fins da sua vida.

Memória de Segundos

“Sabes que os peixes têm uma memória de segundos. Aqueles peixes bonitos dentro dos aquários pequenos, sabes têm uma memória de segundos, três segundos, assim. É por isso que não ficam loucos dentro daqueles aquários sem espaço, porque a cada três segundos estão como num lugar que nunca viram e podem explorar. Devíamos ser assim, a cada segundo ficávamos impressionados com a mais pequena manifestação de vida, porque a mais ridícula coisa na primeira imagem seria uma explosão seria uma explosão fulgurante de estar vivo.”
Valter Hugo Mãe

Saturday 15 May 2010

Na era do pirolito




Falar do pirolito é desbobinar um rosário de recordações. Na era do pirolito, não havia sapatos para os dias da semana. Na era do pirolito, os tostões que seriam da esmola na missa das crianças, eram gastos num chupa-chupa. Na era do pirolito, de manhã, em vez de leite, havia o caldo do dia anterior. na era do pirolito: As necessidades aguçavam o engenho.

AS AMORAS


O meu país sabe às amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

(O OUTRO NOME DA TERRA Eugénio de Andrade)


O nosso casamento


15 de Fevereiro de 1964, há 46 anos atrás. Eu levantei-me, fui tomar banho e foi lá a minha casa uma modista de espinho vestir-me. Fomos para a igreja de carro. Depois da cerimónia viemos para casa com a familia.


Tinha 26 anos quando me casei com o homem ao qual namorei 7 anos. Eu sonhava casar-me com um vestido de noiva, mas a minha mãe não me deixou, então usei um vestido bonito mas muito simples.


20 de Agosto de 1970. Quando ía para o altar sentia uma alegria e felicidade enormes. As bodas foram em casa da minha tia. Ainda gosto muito do meu marido.


Tuesday 11 May 2010

Ficha técnica e artística


Actores:Adelina Silva (59) · Amélia Silva (71) · Ana Silva (48) · Ana Sofia Reis (7) · Anabela Costa (36) · Andreia Amorim (17) · Andreia Santos (34) · Ângela Silva (26) · Arminda Silva (80) · Ascensão Pinto (66) · Aurora Reis (72) · Baptistina Oliveira (74) · Bernardina Oliveira (60) · Bruna Oliveira (7) · Carminda de Jesus · Catarina Rodrigues (18) · César Santos (62) · Clara Oliveira (71) · Claudia Ferreira (17) · Cláudia Reis (27) · Dario Almeida (18) · Eduardo Lopes (29) · Elsa Almeida (33) · Elísio Monteiro (55) · Emília Cardoso (76) · Emília Oliveira (68) · Emília Sá (87) · Fátima Sá (67) · Fátima Silva (40) · Filipa Dias (8) · Hélder Resende (17) · Inês Gonçalves (7) · Inês Gregório (28) · Inês Resende (7) · Irene Santos (82) · Jessica Alves (7) · Joana Assunção (19) · Joana Santos (19) · Joana Silva (21) · Leonor Costa (49) · Liliana Alves (25) · Luis Guimarães (8) · Marcos Martins (7) · Margaret Abelha (57) · Maria André Silva · Mariazinha Leandro (50) · Marilina Carvalho (60) · Marisa Rodrigues (17) · Miguel Gonçalves (8) · Miguel Silva (8) · Pedro Resende (7) · Rebecca Almeida (9) · Rosa Castanheira (62) · Rosa Santos (64) · Samuel Martins (7) · Sara Cruz (17) · Teresa Heitor (49)

Alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Santa Maria da Feira.

Música: Orquestra Karrossel (Diana Azevedo · Ferrer Leandro · Nuno Encarnação · Osga · Ricardo Coelho · Sérgio Cardoso) · Paulo Lemos.
Textos: Carpinejar · César Santos · Valter Hugo Mãe.
Direcção artística: Anna Stigsgaard e Paulina Almeida
Cenografia: Bruno Capucho
Figurinos: Paulina Almeida · Sandra Veludo.
Costureira: Sílvia Rodrigues
Coreografias: Isabel Costa
Manipulação objectos: Filipe Caco
Técnico luz: Rui Maia
Técnico som: Pedro Pestana
Fotografia: Teresa Couto
Coordenação do projecto: Lisete dACosta · Divisão da Acção Social – CMFeira.
Acompanhamento do projecto: Andreia Santos · Paula Costa · Sílvia Costa.
Produção: Cristina Pedrosa – Feira Viva · CCTAR
Agradecimentos: Bombeiros Voluntários da Feira · Celeste Silva · Colégio de Lamas · Eduarda Silva · Fabrício Carpinejar · Universidade Sénior · Valter Hugo Mãe
Apoio: Escola de Hotelaria e Turismo de Santa Maria da Feira. · Teatro Nacional de São João


EMILIA SÁ E IRENE



Emilia sá

No dia do meu casamento saí de casa do meu pai e fomos a pé para a igreja, eu ía com uma saia branca e uma blusa branca ás pintinhas bejes. No meu casamento não tinha muita gente porque nem todos queriam que o meu marido se casasse comigo pois ele tinha uma prima que vivia ao lado dele e tinha umas terras e então queriam que eles os dois casassem para juntarem os terrenos. A boda foi num restaurante o que poucas pessoas na altura faziam. Depois como o meu marido tinha carro fomos 2 dias para o Porto de lua de mel, nesses dois dias vimos dois teatros um de Laura alves e outro que se chama “todos os caminhos vão dar a Roma”.


Irene

Namorei 3 anos e meio, casámos honestamente. Na véspera chorei muito. Casei a 29 de Julho de 1949 em Guisande. Havia cerca de 50 pessoas. A boda foi em minha casa. Quando os convidados foram embora eu fiquei num canto da sala e o meu marido no outro a olhar um para o outro. No dia seguinte fomos trabalhar.

AURORA


O meu casamento foi no 15 de Fevereiro de 1964, há 46 anos atrás. Foi lá na minha casa, tinhamos lá um espaço até que chamávamos de alpendre, e cortámos o mato e alisámos aquilo tudo. Para aquilo ficar mais bonitinho puzemos lençóis a fazer efeitos e lençois de folho a fazer de cortinados. Naquele dia chovia muito. Eu levantei-me, fui tomar banho e foi lá a minha casa uma modista de espinho vestir-me. Fomos para a igreja de carro. Depois da cerimónia viemos para casa com a familia.


Monday 10 May 2010

Acto contínuo



"Com a morte também o amor devia acabar. Acto contínuo o coração devia esvaziar-se de todo o sentimento que até ali nutria pela pessoa que deixou de existir." VALTER HUGO MÃE

Sunday 9 May 2010

“A Feliz Idade” estreia no Imaginarius


A Feliz Idade” estreia no Imaginarius

Teatro comunitário reflecte envelhecimento

Seniores entre os 60 e os 87 anos integram este espectáculo

A “Feliz Idade” é o nome de um lar de terceira idade fictício que faz parte do livro “A máquina de fazer espanhóis”, de Valter Hugo Mãe, que serviu de inspiração a uma parte deste espectáculo. Inspirado no nome de um lar real que esconde uma realidade difícil de aceitar: a condição de envelhecer numa sociedade que não reconhece o valor de quem já não serve no ciclo produtivo, que coloca as pessoas em lugares que as isolam da vida, na solidão de um mundo onde as memórias já não são consideradas fundamentais para o futuro, tornandas nostalgia ou mercadoria. “A Feliz Idade” está a ser desenvolvido com a comunidade de Santa Maria da Feira desde Fevereiro, no âmbito da décima edição do Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua.

Artistas não profissionais

São essencialmente artistas não profissionais, pertencentes à comunidade feirense, que protagonizam este espectáculo. Do elenco fazem parte seniores dos 60 aos 87 anos, mulheres de diferentes idades, famílias oriundas de bairros sociais, crianças e jovens de escolas do Concelho e alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Santa Maria da Feira. Pessoas com diferentes percursos de vida que têm partilhado histórias, memórias, músicas, trajes e danças, criando uma ponte entre gerações e pessoas que no seu quotidiano não contactam entre si.

Mergulhámos nas memórias dos participantes para procurar o sentido profundo desta faculdade misteriosa do ser humano e encontrámos nas histórias deles imagens comovedoras e fortes, canções belíssimas e conhecimentos surpreendentes.

O cruzar de todos estes elementos tece um espectáculo que ganha vida exactamente porque as pessoas e processos convergem e se entrelaçam no tempo e no espaço – neste caso, a arquitectura de um edifício que é um museu dos Loios, que tem uma relação estreita com as memórias.

Mas “A Feliz Idade” é também alegria e felicidade. O espectáculo termina com uma grande festa, da qual o público é parte integrante, que recria o encanto vivido e sonhado pelos idosos no tempo em que também eles foram crianças e jovens. Espectadores e actores vão partilhar o mesmo espaço, comer, beber e dançar.

Datas: 27, 28 e 29 de Maio Local: Claustros do Museu Convento dos Lóios / Santa Maria da Feira [lotação limitada]

Na minha infância






Na minha infância ia muito para o mato com as minhas amigas e levávamos o comer nas gigas e uma panela para cozinhar.

O meu pai era muito rígido e não me deixa sair mas sempre que havia desfolhadas eu ia sempre no qual cantava, e ao fim da desfolhada havia sempre um lanche e os bailes e aos domingos ia sempre aos bailes.

Quando me casei na altura do verão ia para a praia de espinho e alugava uma casa com a minha vizinha. E sempre que vínhamos no autocarro embora cantava:

Adeus a praia de espinho

Adeus amigo banheiro

A saúde vai na mesma

Mas a carteira sem dinheiro

Saturday 8 May 2010

XLIII


Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,

que a passagem o animal, que fica lembrada no chão.

A ave passa e esquece, e assim deve ser.

O animal, onde já não está e por isso de nada serve,

mostra que já esteve, o que não serve para nada.


A recordação é uma traição à Natureza,

porque a Natureza de ontem não é Natureza.

O que foi não é nada, e lembrar é não ver.


Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro

Histórias de Casamento


Emilia Cardoso

O meu casamento foi no dia 5 de Outubro em 1955, estava um dia lindo de sol. Eu levava um vestido rosa, de bico, tinha as mangas compridas e no decote tinha um ramo de flor de laranjeira. Ao meu casamento foi a minha família e os amigos mais próximos, e logo após do casamento fomos tirar 3 fotografias a Sanata Maria da Feira. A boda do meu casamento foi em casa.

Amélia

Tinha 26 anos quando me casei com o homem ao qual namorei 7 anos. Eu sonhava casar-me com um vestido de noiva, mas a minha mãe não me deixou, então usei um vestido bonito mas muito simples.

O meu casamento foi em casa dos meus pais, tinha cerca de 60 a 80 pessoas, vesti o meu vestido, desci para a beira dos presentes que me tinham dado, à espera do fotógrafo e dos convidados.

De seguida fomos para a igreja, entrei com o meu irmão mais velho que era também o meu padrinho de casamento, o meu marido com a minha cuhada e levava mais duas crianças das alianças.

Elisio

O dia do meu casamento foi um dos mais importantes da minha vida. Quando me casei tinha 22 anos e a minha actual esposa Palmira Ferreira da Mota tinha 18 anos. A boda foi em casa de um cunhado. Matou-se um porco, umas galinhas e era tudo caseiro, as únicas coisas que foram alugadas foram as mesas e as louças. As bebidas foi um tio que vendia vinhos e champanhes em Oliveira do Douro.

Batistina

Casei-me a 20 de Agosto de 1970. Quando ía para o altar sentia uma alegria e felicidade enormes. As bodas foram em casa da minha tia. Ainda gosto muito do meu marido.

Ascenção

Casei a 13 de Junho de 1964 por procuração. A cerimónia foi feita em casa, não com muitos luxos. O meu vestido era simples, já me encontrava grávida.