Saturday 8 May 2010

XLIII


Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,

que a passagem o animal, que fica lembrada no chão.

A ave passa e esquece, e assim deve ser.

O animal, onde já não está e por isso de nada serve,

mostra que já esteve, o que não serve para nada.


A recordação é uma traição à Natureza,

porque a Natureza de ontem não é Natureza.

O que foi não é nada, e lembrar é não ver.


Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

Alberto Caeiro

No comments:

Post a Comment